Te vejo

Pés marcados de caminhadas sem rumo
mãos sólidas de sonhos de fumaça
Olhares pedintes em busca de palavras
uma simples resposta de um bom dia
o ecoar de um ’’olá’’ que ninguém lhe diz.
Ninguem lhe espera chegar
nem ao menos lhe vê sair.
A chuva mistura-se à lágrimas que escorrem
junto com desejos que não passam de planos.
A venda ocular que o torna invisível à sociedade
a mesma que escreve ou lucra com tua desgraça
a mesma que te chama de coitado
mas que não te estende a mão quando precisa.
Um país de areia que se dissolve em leis fúnebres
que te matam quando levanta e fala e
que te tortura quando te senta e ouve.
Prédios altos são feitos para manterem distância
de quem pela vida inteira permanecerá embaixo
simplesmente por que assim a ’’sociedade’’ determinou,
criando regras de conduta que não dão licença para
quem com humildade deseja entrar nela.
E assim, seguimos a estrada que nos leva ao egoísmo,
que nos leva a nossa própria dignidade fictícia
e que nos faz pensar que somos mais do que você.
Mas toda vida é vida.
E, na verdade, só quem sangra é que sabe a dor que sente.

Um comentário:

  1. Muito bom! Seus textos são fora de série.
    "que te matam quando levanta e fala e
    que te tortura quando te senta e ouve."

    Um absurdo de tão bem versado.

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