Minha paz (Recapitulando)

                                           

Minha paz é o sol entrando pela vidraça em um simples amanhecer,

é o bom dia do vizinho que vai a feira calmamente no domingo.

Pouco exijo do dia que muito me oferece,

e muito ofereço do dia que pouco me exige.

Gosto de ouvir o barulho natural que vem da rua,

gosto de saber que o céu ainda está sobre mim,

e que debaixo do mesmo céu ainda está tudo que preciso.

Posso juntar minhas estrelas e soprar as nuvens,

fazendo de um dia qualquer um novo dia especial.

Tenho dois pares de mãos que se ajudam e se afagam,

que se tocam e se puxam para o mesmo lado.

Estou aqui e lá, e aqui e lá é minha casa, sempre será...

Acaricio a cada dia meu passado, por isso enriqueço meu presente,

e assim posso prever como serei recebido em meu novo amanhã.

O melhor som que o mundo emite é uma boa gargalhada,

que faz do momento uma brincadeira despretensiosa e límpida,

tornando o simples puramente essencial.

Deixo que a gravidade traga a mim as coisas leves,

que vem dançando em minha direção sem tocar o chão,

tornando-me mais uma vez a outra parte de mim.

Mais um dia que minhas gavetas me procuram,

em minhas repetidas bagunças organizadas,

e sempre me encontram guardado intacto,

com tudo em seu devido lugar.