Desculpe

Esquecí de ser membro do exército e salvar vidas,
não carreguei meu fuzíl pendurado no ombro,
nem conseguí deixar apreensivas as pessoas que
convivem comigo.
Também deixei de enviar algumas cartas,
e seus destinatários não ficaram sabendo o quê
eu tinha a lhes dizer.
Algumas vezes, estava tão distraído,
que até esquecí de dizer boa noite, ou bom dia,
e talvez por isso, meu próprio dia não tenha sido melhor.
Alguns amigos foram embora para sempre,
sem que tivéssemos tempo de nos despedir,
e novos amigos chegaram sem saber que a despedida existe.
Queria ter falado em momentos que me calei,
ou ter me calado em momentos que falei.
Mas tudo segue em frente, gira, voa, mas não volta atrás.
Talvez eu tenha tirado sorrisos de lábios errados,
ou sentimentos de falsos corações.
Talvez meus lábios tenham sido errados para alguém,
e meu coração também não tenha sido verdadeiro.
Mas o tempo seguiu e a vida não me esperou...
Escreví músicas que não cantei, cantei músicas que não toquei,
e toquei músicas que não criei.
Experimentei de todos os venenos, de todos os sabores,
conhecí muitos olhares e muitas vózes,
e poucos brilharam e me disseram algo,
mas dos poucos, com uma sinceridade inquestionável.
Então, desculpe se amanhã eu ficar pelo caminho,
se eu não voltar para casa, se eu não cumprir
minhas promessas.
Desculpe por tudo que deixei de fazer,
ou que fiz mas fiz errado.
Desculpe, se amanhã eu não voltar...