Meu dia para morrer

Quero uma noite fria de chuva e vento,
uma noite em que a lua esteja escondida atrás das nuvens
para que simbolize a dúvida, a espera, o tempo.
Quero o vento balançando os galhos das árvores
fazendo um ruído como vozes ausentes.
Quero os pingos da chuva caindo constantemente,
escorrendo nas colunas do cemitério escuro
e deslizando pelo chão sem um caminho premeditado.
Quero que tenha pessoas que me viram, me ouviram.
Pessoas que me conheceram e me aceitaram,
pessoas que mesmo sem me contar segredos, confiaram em mim.
Quero que ouçam o vento, a chuva, o barulho dos galhos,
e sintam um arrepio que sobe pela coluna
deixando a sensação de sentirem minha presença.
Talvez possa ser a sensação mais real que irão sentir.
Não quero que digam clichês do tipo; ele era tão isso ou tão aquilo;
ele era tão jovem ou já estava velho.
Quero que estejam alí apenas para acompanhar meu corpo frio
corpo que não está mais em mim, que simplismente
não me carrega mais à lugar algum.
Quero que meu corpo esteja em um caixão barato
de madeira simples, sem forma e sem enfeites,
quero que me coloquem em um túmulo no qual esteja escrito:
Não importa a vida, para quem morre verdadeiramente feliz!

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