Seguindo...

Deixo tudo
Andando nessas pontes e nessas torres
No alto das cidades e nas sombras dos prédios
Eu via a mecânica urbana crescendo e ditando as regras.
Propagandas e outdoors que convenciam cegos
E rótulos caros de produtos baratos nas prateleiras.
Meu olhar atravessava as vitrines e via o vazio.
Vazio que muitos compravam todos os dias.
Eu estive diante dos ambulantes e não me viram.
Assim como também não me viram, os mendigos,
os comerciantes, os pedestres e os malabaristas.
Muitos corriam para pegar o metrô ou para pagar as contas
e andavam como se de olhos vendados.
Os livros diziam o que ninguém queria ler.
O jornal que sangrava tinha muita procura naquela cidade central.
Esse mesmo jornal que no dia seguinte seria a cama de um andarilho.
O homem que fingia-se de aleijado ganhava alguns trocados
De pessoas que fingiam estar ajudando.
Policiais nas esquinas fitavam nos olhos dos negros e
dos moradores de rua, como se quizessem perguntar algo.
E esses por sua vez sentiam-se questionados pelo mesmo olhar.
Moças bonitas procurando vitrines espelhadas
para poder conferir sua estonteante beleza.
Pais e mães voltando para casa no entardecer
Esperando os filhos sem hora para chegar.
Uma cidade grande pintada de cores cítricas,
tão cítricas quanto as mentes que pensavam estar pensando.
Alguns jovens com os fones nos ouvidos não conseguiam perceber
o som que saía daquele silêncio e seguiam aparentemente para algum lugar.
Ninguém ouviu a adolescente pensando que sua vida acabou
por quê seu jovem namorado a deixou.
Nem conseguiram ler o olhar do pai
que buscava um pão e não encontrava para seu filho.
Mas muitos viram as roupas da moda que o outro usava
e o último celular que acabara de chegar ao mercado.
Olhavam para os sapatos, para as roupas e para os cabelos,
mas esqueciam dos olhos e das mãos...
Toda vez que um ônibus partia, levava um motorista que esperava a
hora de ir para casa descansar e fazer amor com sua esposa.
E levava também o estudante que imaginava um bom emprego,
o idoso que embarcava sem pagar e a moça bonita,
que tinha a real sensação de que todos a admiravam.
Se eu voltasse nesse mesmo caminho um dia,
daqui a muitos e muitos anos certamente veria a mesma coisa.
Tudo seria exatamente igual...
Tudo bem...
Muito obrigado...
Desculpe...

2 comentários:

  1. Exatamente assim! Muita superficialidade em todos os lugares.
    Otimo texto!

    Abraços

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  2. Obrigado Joel.
    É sempre gratificante saber sua opinião.
    Um abraço.

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