Páginas

Empunhei minhas palavras que não ecoavam em direções predefinidas,
como se fosse a última lágrima corrida em olhares vazios.
Degustei o amargo de meus silêncios em dias de extrema vontade de gritar sem nexo,
para que os ouvidos menos aguçados ou mais distantes pudessem ouvir.
Mas minhas letras não chegaram ao seu destino, e não saltaram aos olhos que não podem mais me ver.
Retrocedendo, buscando em flashs semiapagados ou distorcidos,
encontro o dia em que fui presenteado com a virtude e dom, que mais tarde me tiraria a arte de contar nos olhos,
de dividir minha descoberta antecipada ou precipitada que em nada me faz feliz ou me beneficia.
É como ganhar o mais belo e fascinante presente, mas não poder dividir sua beleza com ninguém.
É como tirar uma impressionante foto que jamais poderá ser revelada.
É como escrever esperando que um dia alguém consiga compreender com pureza, sem que precise de explicações,
e assim possa descobrir parte do que está guardado esperando a chegada da pessoa certa.
Um dia, sei que vou olhar em um olhar brilhante e vê-lo se apagar mediante minha presença,
e logo depois esperarei e ansiosamente aguardarei que nada disso seja verdade.
Quando tentamos esquecer a música que admirávamos, mas que precisamos esquecê-la,
ela entra em nosso sonho durante a noite mau-dormida e inquieta,
e traz de volta todos os acordes em que desejávamos não ouvir mais.
E nada se pode fazer para não ouví-la, porque ela está marcada dentro da gente.
Enquanto finjo olhares para lugar nenhum, caminho por entre pedaços de breves lembranças,
que me forçam a não negar o que finjo não saber.
Preciso apagar o primeiro dia, apenas o primeiro dia...
E fazer de tudo isso uma página bem escrita, e chegada com sucesso ao seu destino final.

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