Olhei para frente

Um dia pensei em olhar sempre em frente,
deixar os rastros mau esculpidos para trás.
Pensei que à minha frente teria sempre coisas novas e perfeitas.
Um dia me soltei nos vôos intensos da liberdade,
fui a paz mais bombardeada e devastadora em mim mesmo.
Desenhei olhos brilhantes, ví no rio o pôr do sol,
cantei com os pássaros, curei meu dia cinza.
Joguei para cima todos os rótulos e etiquetas,
e assoprei as palavras belas ao vento que batia de porta em porta.
Um dia esquecí meus dias...
Cantei minha música, apertei a mão do mendigo, fui gente.
Olhei em frente e segui...
Foi o dia em que os bolsos vazios me deram tudo,
toda a árvore deu frutos, todo campo se moldou em verde, perfeito.
Pude libertar as horas, sentir o tempo a meu favor, pude pular e brincar como criança.
Fechei os olhos, girei de braços abertos, tive o mundo em meu colo,
por um instante, um longo instante, tive realmente o mundo para mim.
Fui uma gota de sangue pulsante no coração do mundo.
Não deixei que nenhum botão fosse apertado e que nenhuma barriga roncasse,
não deixei que nenhuma lágrima escorresse e nenhuma palavra fosse dita em ofensa.
E assim, olhei em frente, e seguí...
Pintei todos os seres da mesma cor,
unifiquei os sexos, transformei todos os sentimentos em paz.
Mas, de repente...
Pensei que deveria sim, uma vez que fosse, olhar para trás.
E o que pude ver, foi que atrás de mim, por onde eu passava,
por onde eu deixava um pedaço do meu passado,
era onde desenhava-se a trilha a ser seguida no meu futuro.
E por onde eu curava o mundo, um mundo me seguia sorrindo e cantando.