Livre

Havia uma alma escondida em sonhos,
por trás de blocos de concreto sólido
que queimava o desejo de ver o sol.
Em dias cinzas fingia sorrisos alegres,
mas chorava no silêncio escuro do quarto.
Privava-se do desejo de liberdade,
ao que o mundo ostentava em imagens e
descrições de pessoas próximas.
Passava cada dia igual ao outro,
sem que nada diferente ou casual acontecesse.
Um mundo de grades, de rotinas constantes,
de medos frequentes do amanhã incerto.
Alguém que estava em um mundo em que nunca conhecera,
numa vida de espera, de pouca ou nenhuma esperança.
E de tudo que escondia e guardava dentro de sí,
ainda conseguia dizer-nos palavras confortantes.
Parecia que a forma tão irreal como parecia viver,
era o suficiente para marcar sua passagem,
para deixar um pedaço de sí em quem o entendera
e o acompanhara por um longo tempo de amizade.
Demonstrava que apenas a presença despretenciosa,
era como um imenso e valioso presente.
Como se o olhar, o aperto de mão, o estar alí presente,
fosse como anos vividos intensamente.
Sempre tentei entender aquela forma silenciosa de viver,
aquele modo sereno de agir e de conversar.
Não havia malícia naquela alma,
nem havia forma tão singular comparável à calma demonstrada.
E o tempo passou, a vida foi seguindo dia após dia,
e a contagem regressiva foi chegando em seu ápice.
Somos feitos de toques, de gestos, de palavras,
somos feitos de lembranças, de sorrisos desmedidos.
E por mais fortes que possamos parecer,
existem pedaços de vida que nos marcam,
de uma forma que jamais será apagado dentro de nós.
E não existe nada mais valioso do que saber que fomos
parte da vida de alguém, que estivemos alí,
simplismente por estar, quando alguém se sentia sozinho.
Então, chegou o dia da partida, o dia da passagem,
o dia em que nada mais prenderia aquela alma.
Não haveria mais blocos de concreto sólido,
nem dias cinzas, nem quarto escuro...
Enfim, a liberdade chegara trazendo o horizonte nunca visto.
E o que me foi deixado, levo como um pedaço desse tempo,
em que tive ao meu lado um amigo que não vivia,
mas que me fez viver e me sentir vivo.
E mesmo após seu corpo já sem vida, apresentado pela
última vez, era inquestionável a pureza e serenidade
em seu sorriso, que dizia que enfim encontrara a paz.

''Nunca me deixou ver espinhos nas rosas,
sempre me mostrou que havia rosas nos espinhos''

2 comentários:

  1. Palmas!!!
    Muito,muito lindo...
    Amei seu poema!
    Transmite tanta felicidade;Embora tenha tido que dizer adeus,foi feliz ao saber que ele estaria melhor partindo.
    É profundo!
    Pelas suas palavras,qualquer pessoa seria capaz de amar esse alguém,assim como vc também ama.
    É simplesmente incrível!
    Você tem textos ótimos,todos são maravilhosos.
    Mas mesmo que pareça impossível...
    Você se superou!
    Você vai se achar que eu sei,mas um dom como esse deve ser devidamente reconhecido.
    Parabéns!
    Abraço.

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  2. Muito lindo esse seu post. Me fez voltar ao passado e lembrar de alguém que tbm se foi de mim. Parabéns pelo conteúdo expressivo de seus textos e pelo blog inteligente que aqui eu encontrei. Um bj carinhoso.

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