Nossa decisão

Amanhece mais dia urbano cinza fosco,
recheado de simplicidades complicadas ao redor.
Mais uma obra publicitária sujando minha rua,
tentando me entregar meu atestado de ignorância, mais uma vez.
Carros de som poluem o silêncio barulhento da cidade,
ecoando vózes mentirosas e acusticamente falsas.
A cada palavra que ouço desse discurso batido,
sinto como se a vida nada tivesse me ensinado.
Mais um ou dois passos, e posso lembrar do que foi dito no ano anterior,
e constatar que não existem motivos para acreditar que algo será diferente.
Pois, em visíveis verdades, as fezes ainda escorrem dos papéis assinados em vão.
As ruas continuam vendendo infâncias, subtraindo vidas, prostituindo nossa consciência...
Os resultados obtidos na urna, não limparam o sangue escorrido da dignidade machucada,
nem devolveram tudo que já nos foi tirado sem sequer pedirem licença.
Seguem as passeatas de passos parados e paridos,
nascidos de ilusão e falsificados em belas frases de inclusão e desenvolvimento.
Eles, em imagens analógicas ou digitais, invadem nossas casas com grandes sorrisos,
com uma bela música de fundo e um belo trabalho artístico fictício,
para que acreditemos que tudo que é dito será realmente vivido, mas não, não é verdade!
Quando somos enganados uma vez, errado está aquele que nos enganou,
quando somos enganados pela segunda vez, errados estamos nós.
Mas, tudo bem, já decidi que não serei mais enganado.